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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Negócio fechado Senhor Presidente.



REFORMA DO ESTADO (CAPITULO I)


Coisas simples como ponto de partida, uma divagação sobre o papel do Estado no bem-estar da comunidade. Vamos admitir um sistema nuclear, considerem que todo o mundo não é mais que um pequeno atol no meio do vasto oceano.
Os humanos tinham vários problemas, que abordaremos também para explicar os modelos de análise de sistemas muito mais complexos, como este inicial no que diz respeito às trocas e sua representação na paz social. Prosperidade das trocas e bem-estar geral.
Assim, o nosso atol não tinha mais do que coqueiros, palmeiras, areia e mar e, como é evidente, as pessoas que se constituíram em famílias, as ditas nucleares pais e filhos, e as mais alargadas a que se deram o nome de tribos.
As atividades estavam resumidas após construção dos abrigos por mor dos elementos, sol e chuva, pois outros predadores não existiam, nem bens para apropriação indevida. A pesca é obviamente a fonte da alimentação de todos, mas nem todos tinham arte e engenho para apanhar peixe, o que deu origem aos primeiros conflitos. Os carenciados não podiam morrer de fome. Solução do problema: por consenso (foi aqui que nasceu o termo) os inaptos para a pesca iriam apanhar todos os cocos caídos das árvores e ficariam responsáveis pela sua guarda. Primeira forma organizada da agricultura em cooperativa universal.
A paz foi breve. Com a falta de cocos livres os jovens resolveram subir às árvores para o seu próprio abastecimento sem restrições. O mais velho faz uma observação à consideração geral: se são apanhados os cocos nas árvores deixa de haver cocos maduros na praia. Havia um problema que devia ser resolvido (nasce o jurista) e a solução ficou regulada pelo primeiro decreto “atoliano” para ser cumprido por todos sem exceção (salvo nova lei em contrário), foi a primeira previsão de uma lei de exceção.
Ficou regulado: Proibido obter cocos de forma ilícita. A coisa começa a complicar-se: tinham os cocos controlados por uns e o peixe por outros, uma terceira frente de conflito estava crescendo entre os que não tinham o poder de consumir à larga nem uma coisa nem outra. Então, posto o problema, o jurista convoca o pescador que mais pesca e juntamente com o que guardava os cocos, por ser o mais bruto de todos os outros, combinam proteger os seus direitos adquiridos.
O primeiro governo estava formado: o jurista, o dos cocos e o do peixe ouviram em audiência as pretensões dos que não tinham mando em nada. Argumentos expostos: que não podiam ter mais um coco que o vizinho e que também um só carapau como todos os outros não chegava.
Pergunta o jurista: com que direito reclamavam mais do que o que todos tinham? Reafirmaram que se baseavam no facto evidente de que os que pescavam sempre levavam mais peixe do que os outros e os dos cocos o mesmo, e que eles também queriam parte da abundância de uns e outros, que a equidade deve ser respeitada.
A resposta do jurista foi, como sempre, manhosa, que o mar era grande e livre e que quanto a cocos estávamos conversados pois os recursos são escassos, e prometeu que as regras no futuro seria rigorosamente fiscalizadas (nasceu aqui o fisco, de fiscal).
Tréplica estruturada do terceiro sector: temos uma proposta, poderíamos fazer vinho de coco para alegrar a vida da comunidade se justamente também compensados com mais vinho, e por esse meio, com a ilha feliz acabariam as rebeliões. Quais rebeliões pergunta o jurista? As que estão para acontecer se não houver solução.
Negócio fechado diz o presidente jurista. O pescador respira de alívio por afastar a concorrência, passam a estar autorizados a fazer vinho de coco mas com uma condição, quem diz quanto vinho se fabrica e como se distribui somos nós, o governo legítimo (primeira regra de condicionamento económico). Combinado?  Negócio fechado Senhor Presidente.


Lisboa 19 de janeiro de 2013

Armando Ramalho
 

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