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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A TV e os nossos dias.



Não faz sentido algum nos dias de hoje a expressão a “caixa que mudou o mundo”. Perpassa um arrepio só de pensar como era sinónimo de novidade e modernismo, senão mesmo clarividência politica há meia dúzia de anos, opinar sobre os benefícios do progresso tecnológico e os contributos que tal objeto representaria para o futuro radioso da vida em comunidade, totalmente informada, culta, civilizada, harmoniosamente globalizada.
Já não é caixa, é mais moldura, interiorizada por muitos como um ser vivo com vontade própria. O meu propósito é sem dúvida alguma desconstruir ideias feitas sobre o futuro da “coisa”, mas por ora limitemo-nos aos positivos efeitos de se dispor de um colossal arsenal de informação em tempo real, e o que se pode processar de efeitos práticos no sentido económico e político.
Um elemento isolado, um átomo selecionado no turbilhão diário pelo critério da utilidade e competência reconhecida do mensageiro televisivo, pode bem fazer a diferença de uma vida, como a pepita que se revela ao desanimado garimpeiro que desespera perante tamanho deserto de ideias de que é feita a política nacional, menor e vazia, que diariamente nos massacra e destina ao triste vazio a existência pátria. Só pode ser essa a razão de ficarmos colados a esta relação equívoca, retiramos prazer por termos esperança.
A pepita televisiva veio da forma prevista, sabida de véspera por anúncio no mesmo programa da “passagem” por ali do Prof. Vera Cruz Pinto num “face a face” de 30 minutos com a famosa Campos Ferreira do Prós e Contras, também apresentadora do canal público no cabo, em serviço de rebocador de audiências, entalada no horário dos programas vedeta da SIC N e da TVI 24.
Vera Cruz foi à oral, era sabido e foi confessado que tinha pavor “daquela coisa” como justificação das recusas aos insistentes convites que lhe têm vindo a ser dirigidos há longa data. Não ouve rasgo nas questões. Poucas foram necessárias como bem observou. O orador dispensou trivialidades e banalidades costumeiras em académicos agarrados à imagem que de si próprios têm.  
Entrou com simplicidade desconcertante e sem grandes piruetas eloquentes por caminhos secretos da alma e da vida, mas ficou-se pela divisão da entrada, deixando antever os vastos domínios, de que só os iniciados atentos no relacionamento com o personagem poderiam ter provocado a revelação. Ficaram nítidas as múltiplas facetas do seu saber, de uma vida partilhada com clássicos gregos e romanos, mesmo de alguns modernos é íntimo, um feixe de linhas que fugiram a uma interlocutora mais admirativa que inquisidora, embevecida, fora do seu registo habitual de controladora e dominadora do tema e do espaço.
Ficou nitidamente perplexa perante o manancial e o potencial da figura que tinha pela frente, via a fluidez discursiva desenvolta, sacudindo ideias feitas da crise, denunciando com a firmeza dos convictos os entraves ao seu mister, espraiando um sotaque que não disfarçava as origens africanas, separando o trigo do joio com a leveza de uma pena. Tudo isto em levas de conforto desinibido mas com pudor e prudência, um mestre do saber académico, um humanista prático, como diria um poeta, amassado na vida começada cedo, intensa e bem resolvida ou quase.
A “coisa” mudou o mundo para melhor? Talvez. Decididamente resolve as dúvidas da ignorância. Informa em direto, Obama eleito em direto uma boa notícia, o congresso chinês em direto uma real expectativa, o Vera Cruz Pinto em direto uma certeza, um mundo melhor? Veremos.
                                                        FDL armando ramalho
                                               Lisboa 14 de Novembro de 2012