Número total de visualizações de páginas

sábado, 30 de julho de 2011

Política ao pé da porta

Escrever em blogues abertos à participação geral tem as suas responsabilidades. O nosso amigo João Viegas perguntava: “como se faz política sem partidos?”, longe de considerar uma afirmação sem sentido, é por tal razão que volto ao tema.

Sem pretensões académicas, que não seriam de todo desajustadas dado que tenho habilitação de ensino, considerando os meus graus académicos na matéria, que não são produto de uma imaginação em delírio, mas fruto de longo trabalho de estudo acompanhado por professores do mais elevado gabarito universitário.

Seria muito fácil remeter o meu caro amigo para uma simples consulta na net para se fazer uma ideia de política e partidos, para se retirar uma elação óbvia de que ambas se passam bem uma sem a existência da outra.

Política hoje é uma ciência, dado que se elaboraram muitas teorias sobre a mesma, quer quanto à sua dimensão mais corrente, quer quanto à mais elaborada teoria do fim da história. Mais ao nível do dia a dia, temos que política não é, de forma alguma, uma discussão de vizinhos, mas já se aproxima, se o interesse em causa envolver uma comunidade e o objecto requerer o consentimento de uma maioria com poderes de vincular os que votaram contra o interesse geral.

É esta uma dimensão da política sem partidos, é a dimensão de uma democracia directa. Quanto a partidos sem política é muito mais óbvio, temos grupos de pessoas cujo interesse é comum, por exemplo, uns querem os caixotes do lixo colocados em determinado local e outro grupo pretende justamente o local que os outros recusam por não o quererem à sua porta. Desta situação temos partidários de uma solução e do seu contrário, só falta os poderes instituídos decidirem segundo os seus próprios interesses.

Aqui temos política no seu melhor, mas mesmo assim sem partidos, são só interesses egoístas. É legítimo que cada um trate da "vidinha" da melhor forma que lhe for possível, ou dito de outro modo, que cada um cuide de si, é a lei da selva ou a do mais forte.

Como diria Sócrates, o grego, tento que se compreenda o simples para elaborarmos os sistemas mais complexos, quem não entende a cidade jamais elabora a nação.

sábado, 23 de julho de 2011

No Reino do “Pinchbeck”

A minha avó, mulher singular a vários títulos, não só por ter nascido no ano da República, o que gostava de afirmar para vincar a sua longa experiência em qualquer discussão de família, referia com frequência, quando o valor da “peça” era duvidoso, “isso é pinchbeck” (que não era de ouro), remate do tema, em geral certeiro e sem réplica possível.

O famoso inventor da liga metálica, nascido pouco depois de termos corrido com os espanhóis do país, estava longe de imaginar que a solução que encontrara de aplicar um “banho” de ouro para protecção contra o verdete nas jóias e peças de relojoaria onde era aplicado que o próprio fabricava,pois aparecia com o tempo e retirava-lhes brilho e dignidade, lhe daria fama para a eternidade.

Esta aparente semelhança com o ouro teve rápida aplicação na duplicação de jóias por segurança contra os ladrões de estrada, muito frequentes naqueles tempos. É que desta forma protegiam os seus bens podendo exibir a sua riqueza que não era aparente e a imitação não constituía uma fraude, cada um fazia só as cópias das suas próprias jóias. As confusões entre as verdadeiras e as falsas jóias rapidamente criaram um lucrativo negócio, que abriu as portas às maiores fraudes no ramo da joalharia.

Odivelas ficou nacionalmente conhecida por ter sido aqui inventado o “pinchbeck” político. Uma denúncia certeira revelou o verdadeiro espírito do negócio político partidário nestas paragens. Querer parecer ser o que se sabe em verdade não ser é a verdadeira razão destas fraudes políticas, que noutros tempos se chamava “chapelada”.

O aparente valor que se quer proteger com este comportamento não é, na realidade, tão caricato como uma ligeira leitura pode induzir. Estamos perante formas de pensar e agir onde o mais importante não é aferir o mérito das acções políticas dos seus agentes, mas permitir que estes criem a ilusão de uma importância de representação que os abandona persistentemente.

A presidente da Câmara de Odivelas é envolvida na denúncia pública pelo candidato a secretário-geral do partido, por ser também a presidente da comissão política do partido socialista e apoiante do antagonista do denunciante. Se é justa ou injusta esta amálgama, é possivelmente exagerado, mas que a própria alimenta e pratica com zelo os maiores entorses a uma sã e transparente vivência democrática interna, é facto mais que provado.

Quer no número de adesões a este “modo de vida”, como na qualidade dos seus protagonistas, o valor da dignidade está perigosamente a caminho do generalizado “pinchbeck” sendo Odivelas a sua centralidade e modelo no país.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Lixo na Cidade

Que povo é este que povo! Este verso pode dizer quase tudo o que se quiser, tanto pode ser entendido que este povo é uma maravilha, revela espanto, admiração e prazer na adesão e pertença. Mas também é legítimo entender noutro sentido, quando significa uma constatação de tristeza, de reprovação e de amargura de estar nele incluído.

É mais nesta segunda classificação que se deve analisar, quer o que vai por aí nas televisões e jornais a nível nacional, porque alguém nos classificou de lixo financeiro, quer mais junto de nós, o que nos acontece ao nível do patamar local, que são as próprias autarquias a darem tratamento de lixo ao seu próprio povo.

Um jornal local, Nova Odivelas, na edição de 8 de Julho trata com rigor o tema, relata o que sabe, informa e não elabora nem opina sobre a anulação das festas da cidade de Odivelas. Mas dá para ver o que não é dito nas entrelinhas, em especial para quem aprendeu a ler política no extinto jornal República, em plena ditadura e censura, órgão de referência dos socialistas da época, e que conhece os diversos actores envolvidos e as obrigações político-legais de que são responsáveis os agentes desta triste história.

Para os mais destraidos que julgam que “isto é quase o da Joana” e para os eleitos locais que agem como lhes dá na real gana, ficam avisados que estão muito, mesmo muito enganados. O partido comunista aborda o assunto politicamente no mesmo jornal, com uma atitude forte, classificando os agentes incumbimos da realização das festas da cidade, de incompetência e desleixo. Mas não chega. Há responsabilidade para lá da política, dos jogos de poder e da denúncia pública.

Em qualquer lugar do nosso país que se respeite, estes responsáveis partidários eleitos de meio gabarito já estavam a milhas da cidade, o povo dava-lhe uma coça de criar bicho que de exemplo ficasse para o futuro. Mas não indo por aí, há seguramente responsabilidade objectiva para agir no plano civil e penal contra estes eleitos, indignos do povo que dizem representar.

Não contem comigo para fazer o vosso trabalho. O meu partido já devia ter tomado uma posição em conformidade a bem da dignidade da política local e do partido em especial, com respeito pelo passado dos que serviram esta comunidade com as suas cores.

Tenham vergonha e cumpram o vosso dever de servir o povo, no mínimo informando qual é a vossa posição. A demissão dos socialistas do executivo da junta é mais do que adequada, não sejam cúmplices nesta calamidade que se abate sobretudo na pobre gente, aquela que nunca foi de férias.

As festas na cidade são as férias dos mais humildes, dos mais pobres, o contentamento possível ao nível das suas bolsas, até isso lhes querem roubar e ficarem impunes?

sábado, 2 de julho de 2011

Cegada saloia

No dia 21 de Junho de 2011 houve uma reunião pública da vereação da Câmara Municipal de Odivelas. Não estive presente e disso não me lamento. Há muito se revelou, para mim, ser um acto sem significado ou dignidade política digno desse nome.

Alguém em seu juízo o deve evitar, felizmente o povo raramente está presente, porque a linguagem é cifrada, é do tipo despachar o expediente, são de difícil compreensão os apartes por virem de outras vidas, ou estamos perante discussões já mastigadas em reuniões não públicas, secretas por natureza. Existem actas seguramente, por ser de lei, mas nesta só consta o politicamente correcto, sem substância analítica. São formais.

Mas, dias não são dias e o que há muito se previa, tendo presente o ditado “o que é mau com o tempo só piora”, o caldo entornou-se e não foi a mais por haver ainda algum tino na cabeça de algumas pessoas.

A tecnologia, para o bem ou para o mal, está aí para dar fé com realismo inexcedível do que na realidade se passou, limito-me a juntar à narração da máquina e à selecção das imagens da autoria de quem publicou as filmagens, no “Odivelas TV”, a minha especulação e convidá-los a que dedique algum do vosso tempo, vale bem a pena.

Há um vereador, de seu nome Paulo Aido, eleito na lista do PSD, que em tempos pediu a demissão do Vereador Mário Máximo, eleito na lista do PS. Como é frequente ser este a dirigir os trabalhos das reuniões públicas (nas reuniões não públicas dizem que a presidente está sempre presente, não vá o diabo tece-las) o tom é sempre de acrimónia entre eles.

Os mimos de “oportunista” e “sem vergonha” são regados em contra ponto com uma avinagrada e pérfida chamada de “V.Ex” deslocada, repetitiva e sem sentido, e daí ao desregrado despropósito intelectualismo de valeta, um abismo identitário, do outro lado os píncaros da elegância incomodada e mal contida quase envergonhada, são reveladoras das origens de onde cada um imergiu e a razões que os movem.

A realidade é que a cegada só acabou com recurso ao chamamento ao serviço da presidente, que se ocupava em emergência familiar, a emenda foi pior que o soneto.
De um lado rasgados e inusitados elogios às capacidades presidenciais na condução dos trabalhos, que mais não visavam que o afundamento por contraste do dito Máximo, um “indigno” na função. Sem se lembrarem da autoria constitutiva da criatura em causa.

Este em réplica “era o que mais faltava”, quem louva e bajula a presidente sou eu e mais ninguém. Como quem sente, e alguma razão terá dá para ver nos olhares cruzados dos restantes actores, de que “já foste”, fórmula com que são despedidos, em programa televisivo famoso, os concorrentes que não acertam por inábeis.

Há o mito de que os eleitos locais são inamovíveis. Não é fácil de facto uma vez instalados, mas a lei prevê a possibilidade. Ser jurista nesta terra ajuda e muito a levar a água ao seu moinho. Trabalhem.