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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sopa grega dos pobres.

Ninguém do governo queria ser grego, nem de perto nem de longe, porque estes davam uma muito má imagem de si, trapalhões, pouco sérios e ainda por cima a deverem muito dinheiro a muita gente. Mas a sorte virou, pois as coisas são o que são e não o que se quer que sejam. Os gregos obtiveram um perdão e peras da sua louca dívida e ainda condições muito boas para poderem pagar qualquer coisita num futuro lá mais para a frente, quase a perder de vista.
Não queriam ser gregos nem mortos. A coisa virou e agora vão mesmo ver-se gregos para darem a volta às afirmações extemporâneas e presunçosas, e posicionarem-se de bom jeito e de mão estendida. Assim já querem da mesma fruta. Pensarão: ou há moral, ou comem todos. Gente avisada! Como dizem os miúdos da rua, é só farol.
Imberbes governantes pescados nos mares da estranja por terem muita competência, uns super-boys, porque por estas paragens os que existiam já tinham tomado rumos mais convenientes, por gostarem muito mais das zonas de conforto nacionais, tipo EDP.
A melhor escola do pensamento liberal não dá mais do que repor a sopa dos pobres, travestida com um belo nome de cantinas sociais. É uma verdade fácil de observar pois o sistema nunca se extinguiu, chegou aos nossos dias a sopa pública dos Anjos, como amostra das necessidades marginais que sempre subsistem. Foi instituída pelo Presidente da República Sidónio Pais na época da grande fome em Lisboa, há quase um século. Um destes dias ainda teremos um neo-grito salazarento, para a África já e em força. Deve parecer-se um pouco como: temos um paraíso que espera pelos melhores de nós, os jovens formados e saudáveis prontos a darem milhões a ganhar, serem úteis aos nossos irmãos da África amiga, é um dever ser gratos portugueses.
Só de pensar dá um arrepio, pois pode bem ser pior. Uma ordem.
Já não tenho dó nem pena de uns ou de outros, começo a pensar que os desempregados e os governantes se merecem, afinal, ninguém em boa verdade é grego, uns porque não se batem pelo que consideram seu de direito, outros, os governantes cá do burgo, nem têm competências de trafulhas como os camaradas gregos.
Reclamam a plenos pulmões, nem mais tempo nem mais dinheiro, é só honestidade, competência e brio pátrio. Se lhes caísse um dente cada vez que mentem em consciência, tínhamos um país de governantes desdentados. Seguramente um bom negócio para as PAPAS gregas já mastigadas. Ficámos em últimos, é o costume.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

ASILO OU KIBUTZ ?

Uma escolha simples vai ser feita, mais dia, menos dia. Ou vamos no sentido de termos um país tipo asilo, onde todos terão o mínimo de subsistência garantido até ao dia do juízo final, ou optamos por formar um grande kibutz. Com as devidas adaptações, é certo, às necessidades de uma sociedade integrada num dos blocos mais ricos do planeta, mas dependendo para subsistir da boa vontade dos regimes mais autoritários e menos democráticos no concerto das nações.
Foi premonitório e avisado o alerta do presidente do parlamento europeu, que as boas almas do reino entenderam de través, pois não acreditam que estas mãos largas de hoje vão um dia querer ser pagas e com dividendos. Aí veremos como vamos ser espremidos, não em sentido metafórico mas na realidade concreta: o regresso à meia sardinha por cabeça não é figura lírica. Carências e racionamentos já habitam a mente de muitos políticos da nova escola, e de umas mais tontas ainda que pensam assim reviver o autoritarismo.
Ainda existe memória em alguns de nós do que significa uma comunidade de asilados, isto é, de assistidos e indigentes, em geral os mais idosos e demunidos que se arrastam pela vida uns com demência já acentuada outros a caminho desse estado.
Ter presente o que é um kibutz implica alguma leitura da sua génese, da sua história na formação do Estado de Israel, como evoluiu e o que representa como modelo de grande escala do experimentalismo social contemporâneo.
Por terem tido origem num população religiosa, constituíram-se e mantêm um secularismo rígido, se não mesmo com uma vertente muito acentuada de ateísmo. Estas comunidades onde imperavam as utopias do igualitarismo sempre repudiaram ferozmente o comunismo, o que não deixa de ser uma aparente contradição. Os kibutz têm a sua primeira experiência muito antes da existência de Israel, ocuparam terras compradas por dádivas vindas do exterior, aprenderam e desenvolveram técnicas de produção que chegaram aos nossos dias como verdadeiras multinacionais dos seus sectores de actividade. O brilho da partilha socialista desenvolvido nos tempos primitivos criou no seu seio os maiores vultos da história militar e política do Estado de Israel. Apesar de ser muito significativa em termos económicos, políticos e sociais a sua população é residual e não proporcional à sua incomparável influência. Em 2000 estabilizaram em 115.000 habitantes em 267 comunidades. São grandes empregadores de mão-de-obra de qualquer origem.
A partilha na necessidade primitiva é uma raridade que só existe como realidade turística, mas ainda são estas comunidades de espírito utópico que se converteram à sustentabilidade do seu desenvolvimento, dando os maiores contributos à preservação do meio ambiente, promovendo uma cultura de partilha de valores através de uma original forma de hospedagem, especialmente para jovens viajantes, e têm como lema “vejam mais passarinhos em liberdade aqui do que no vosso país”. Não há como pensar alto.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

“levar a carta a Garcia”

É muito comum ler ou ouvir expressões várias vezes repetidas sem que se saiba o seu significado imagético. Temos normalmente uma ideia, mas o mais natural é estarmos longe do sentido real, sendo mesmo vulgar observar o seu mau uso e no limite em oposição ao seu significado original. Está hoje ao alcance de todos um vulgar dicionário. Quando não exista um meio electrónico que nos permita saber a origem e verdadeiro sentido do que exprimimos, se é claro e se tem o mesmo sentido para todos. Estariam resolvidos muitos mal entendidos de comunicação, e esta seria muito mais rica de precisão, ganhando contornos bem precisos. A mensagem e a vontade assim emitidas e entendidas ganhariam muito em clareza e transparência, evitando o ruído e o desconforto dos mal-entendidos.
O jornal de Negócios em boa hora criou um glossário para melhor se entender os termos usados para discorrer da crise económico financeira que afecta a Zona do Euro e pode ser consultada em http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=530597.
A mensagem politica está descredibilizada em larga medida por outras razões. O seu descrédito deriva dos seus agentes afirmarem, com um sentindo muito claro, o que fariam se lhes dessem o voto. Uma vez obtido o poder dão largas à imaginação para o não cumprimento das promessas eleitorais. O sério e honesto posicionamento de um homem íntegro quando empenha a sua palavra e não pode cumprir é o de devolver o que obteve com a sua genuína intenção de cumprir. No caso de assim não proceder está agindo de má fé, o que não é conduta que se louve em sociedade. Há o dever de repudiar os homens, em funções de Estado, que com os destinos colectivos nas suas mãos procedam de tal forma. Devolver o poder ao povo é o mínimo exigível a pessoas de bem, caso contrário é legítimo o uso dos meios ao dispor de todos, que podem ir da simples indignação ao total repúdio pelo mau uso do direito de governar obtido com má fé.
É simples, claro e transparente para um comportamento cívico natural.
Sabem o significado da expressão “levar a carta a Garcia”? Lenda ou não é uma tarefa que se executa sem rodeios, quer do desconhecimento da morada do destinatário, que na história se situava nas montanhas de Cuba, quer da personagem, que no caso era o General Garcia. O mensageiro que aceitou a incumbência é o nosso herói.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O meu cão teve um fim digno



Foi mais dramática a sua chegada. O pobre tinha sido retirado de um caixote de lixo por uma alma sensível que pensou ouvir um pequeno gato miando, tal era o seu debilitado estado de saúde. Pouco mais tinha que um palmo de corpo sem pelos, só olhos que diziam o que nos era possível imaginar das suas tristes origens e do muito que, seguramente, já sofrera.

Mãos de mães experientes resolveram salvar a criatura com segredos de amor e atenção. Foi nesse dias de visita à “coisa” na casa da sua salvadora que dei o meu prognóstico de “nim” que de repetido lhe deu nome pronunciável Nini. Foi assim, ficou cá por casa uns alegres dez anos de uma existência, creio que feliz. A raça era indefinida mas não permiti que a família lhe chamasse rafeiro, nada de falsa modéstia, quando perguntado pelas suas origens.

Procurei na net a raça que lhe era mais próxima dado o seu tamanho e algumas característica que lhe observava nos passeios pelos jardins em volta da casa, partilhando as habilidades com a minha mulher, sua mais que dona, devota e protectora.
Raça definida por decreto familiar, o Nini era um Terrier de Manchester, dava-lhe pedigree, mas traduzindo dava um especialista a caçar ratos, o que ele era na realidade.

Não deixou prole que se conheça, quem quer ninhadas de caça ratos, ninguém.
Aprendi bastante com o Nini, como é bem simples que gostem de nós, basta ficarmos genuinamente alegres quando alguém aparece e nos damos pedindo festas e atenção.
Ladrava mais por contentamento do que por medo, este era afastado com um rugido de “fera” violenta, mostrando os dentes caninos bem projectados, sem abrir a boca contraindo somente os lábios, quando a brincadeira não lhe agradava ou a sua tranquilidade era ameaçada ou invadida.

O tempo passou, ficámos mais velhos todos sem nos apercebermos que os cães também, e muito mais rápido do que pensamos. No geral foi saudável, as maleitas apareceram no último ano, por tumor na próstata ficou sem tintins, extraído um dente que infectara, e pouco mais é lembrado.

O no seu último mês ficou triste, quase imóvel, perdendo a sua agilidade de caça ratos com gestos rápidos e precisos, queria mas não podia subir para o seu sofá de estimação, do qual me olhava com a cabeça pousada, como que tentando adivinhar os meus pensamentos durante os serões que em conjunto passámos, nós vendo televisão e ele quase em contemplação.

A degradação física, o seu olhar de profunda tristeza, o seu estado geral ditou o internamento, más noticias, os seus rins pararam e, sem possibilidades clínicas, o veterinário apontou a solução final. Antes do fim teve a companhia da sua inestimável amiga, e segundo o relato a despedida foi sentida com um último pedido de afecto.

Lembro aqui o que me dizia um amigo sobre a fidelidade canina, que esta era devida ao facto de os cães não saberem contar dinheiro. Possivelmente estava certo, nunca o saberemos.