Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Será da vida, como diria o outro?

Sempre considerei a Páscoa como uma coisa estranha e difícil de compreender, um verdadeiro mistério para a minha jovem cabecinha. Como se pode passar da dor, da tristeza e do recolhimento, para a festa de sexta a domingo? Como já sou um pouco mais crescidote e como o tempo ajuda a juntar os elementos dispersos, entendo sem esforço como esta construção de quente e frio tem uma carga simbólica. É assim desde os primórdios da humanidade e, como ela, é necessária aos ritos da vida, da celebração e da renovação.

Muito mais complicado de entender são os “ritmos” da nossa gente. Esta é seguramente muito mais complicada. Não vejo nada de racional ou de humano no agir natural, mesmo que bárbaro, muito mais compreensível na luta com um touro, uma quase bênção, onde se mede coragem e valentia, comparado com o ser conduzido em aberrantes manadas nas idas ao circo em que se transformou o nosso desporto de massas. É um espectáculo degradante e impossível de entender.

Há comportamentos pouco inteligíveis mas de conveniência objectiva, mesmo que pouco ou nada legítimas, mas o que dizer ou pensar de actos gratuitos a que só a loucura colectiva pode dar algum entendimento.

Quem está atento aos detalhes, e o diabo está nos detalhes como se diz, pode com facilidade ver pequenas coisas reveladoras de que algo está menos saudável neste povo. É nesta época do ano que se verifica a grande transumância moderna, que de racional pouco tem. É uma pequena guerra com mortos e feridos servidos à hora do jantar, com a banalidade da morte na face dos mensageiros de serviço. É duro viver este tempo de fraca e desnecessária demência.

Quem observar mais fino pode ver nas imagens da tragédia, que é servida como complemento de festa, uns cívicos de serviço de ar grave, como convêm ás autoridades que se prezam, que estas estão equipadas para montar com os seus botins da ordem, mas cavalos por perto não há, só os dos inferiores carritos devidamente emblematizados para prestígio da arma a que pertencem. Não será uma forma de loucura esta farsa menor, sintomática de doença mais profunda? Onde se julgam? Na cavalaria? Só por tradição e comodismo se pode ainda dizer tal nome. Cavalaria é de cavalos. Nem deve ser muito prático carregar nos aceleradores dos carritos com aquelas botas de cano alto.

Sem comentários:

Enviar um comentário