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sábado, 23 de julho de 2011

No Reino do “Pinchbeck”

A minha avó, mulher singular a vários títulos, não só por ter nascido no ano da República, o que gostava de afirmar para vincar a sua longa experiência em qualquer discussão de família, referia com frequência, quando o valor da “peça” era duvidoso, “isso é pinchbeck” (que não era de ouro), remate do tema, em geral certeiro e sem réplica possível.

O famoso inventor da liga metálica, nascido pouco depois de termos corrido com os espanhóis do país, estava longe de imaginar que a solução que encontrara de aplicar um “banho” de ouro para protecção contra o verdete nas jóias e peças de relojoaria onde era aplicado que o próprio fabricava,pois aparecia com o tempo e retirava-lhes brilho e dignidade, lhe daria fama para a eternidade.

Esta aparente semelhança com o ouro teve rápida aplicação na duplicação de jóias por segurança contra os ladrões de estrada, muito frequentes naqueles tempos. É que desta forma protegiam os seus bens podendo exibir a sua riqueza que não era aparente e a imitação não constituía uma fraude, cada um fazia só as cópias das suas próprias jóias. As confusões entre as verdadeiras e as falsas jóias rapidamente criaram um lucrativo negócio, que abriu as portas às maiores fraudes no ramo da joalharia.

Odivelas ficou nacionalmente conhecida por ter sido aqui inventado o “pinchbeck” político. Uma denúncia certeira revelou o verdadeiro espírito do negócio político partidário nestas paragens. Querer parecer ser o que se sabe em verdade não ser é a verdadeira razão destas fraudes políticas, que noutros tempos se chamava “chapelada”.

O aparente valor que se quer proteger com este comportamento não é, na realidade, tão caricato como uma ligeira leitura pode induzir. Estamos perante formas de pensar e agir onde o mais importante não é aferir o mérito das acções políticas dos seus agentes, mas permitir que estes criem a ilusão de uma importância de representação que os abandona persistentemente.

A presidente da Câmara de Odivelas é envolvida na denúncia pública pelo candidato a secretário-geral do partido, por ser também a presidente da comissão política do partido socialista e apoiante do antagonista do denunciante. Se é justa ou injusta esta amálgama, é possivelmente exagerado, mas que a própria alimenta e pratica com zelo os maiores entorses a uma sã e transparente vivência democrática interna, é facto mais que provado.

Quer no número de adesões a este “modo de vida”, como na qualidade dos seus protagonistas, o valor da dignidade está perigosamente a caminho do generalizado “pinchbeck” sendo Odivelas a sua centralidade e modelo no país.

12 comentários:

  1. Um trecho das farpas.
    Ramalho Ortigão não desdenaria destas farpas....

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  2. corrigindo: "desdenharia"

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  3. Cara Professora a Senhora estraga-me com mimos.

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  4. Tenho os meus valores, mas não sou moralista.Faço política mas não tenho opção partidária.
    Os meus comentários destacam os aspectos que interessam a todos. Neste caso, foi a escrita dos homens das farpas, estilo que muito aprecio.

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  5. Boas!
    Como se faz política sem opçãp partidária?
    Bem Hajam

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  6. Não são apenas os inscritos em partidos que fazem política. Fazer política não é só fazer política partidária. Creio que isto nem precisa de explicação. Basta ser um cidadão consciente para se fazer política, porque ser consciente obriga a ser interveniente.Nem veja razão para esta pergunta.

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  7. Uma pergunta ofende?
    Em como efectivos são execidos os poderes/responsabilidades políticas:
    1- Na gestão de orçamentos e gestão territorial (listas feitas em partidos - com excepções mas isso seria outra conversa os tais "independentes" autáquicos que se tiver gosto e disponibilidade terei o maior ptrazer em ouvi-la)
    2- Na elaboração de legislação (aqui SÃO SÓ MESMOS OS PARTIDOS!)

    Em suma,
    a minha questão não tenta justapor, ou quase usurpar, o poder político no senti em que se confina e é submisso ao partidário (e ao económico!?)
    Fala-me de cidadania. Comceito que respeito, professo, reflicto e não tenho certezas, apenas a convicção que estará na sua génese o princípio do fim, da crise mundial que atravessamos, olhe desculpe já estou a divagar
    As minhas desculpas se de alguma forma a ofendi
    Bam Haja
    João Viegas
    (pensador)
    jcviegas@gmail.com

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  8. Desculpe os erros ortogáficos mas estou a enviar via telemóvel

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  9. Se pergunta ofende? Há perguntas que ofendem. Depende da pergunta e do pressuposto da pergunta.
    Essas reflexões são para outros locais e ocasiões, não vejo que se discutam num blog. Além disso, cada um que procure o que quer discutir e com quem, e eu não quero discutir este tipo de assunto, aqui.

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  10. Concordo consigo incomoda discutir e como dizia Virgílio Ferreira o amis violento acto humano é o de pensar

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  11. ... o que só alguns privilegiados conseguem...

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  12. João Viegas vs Maria Máxima Vaz

    Gostei da polémica, mas não tenho tempo de momento para dar o meu contributo.

    Voltarei para dar a minha opinião sobre temas muito mal explicados, como por exemplo esse de não poder haver politica sem partidos.

    Por ser básico o seu entendimento talvez me permita um texto a propósito.

    Não ofende quando só se quer saber mais.

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