Como nos podemos entender se é tão frequente, mesmo
na nossa na casa, pensarmos ter ouvido: (a) quando o proposto era (b) e em
resposta saiu um (c) fora de contexto. E por vezes até faz sentido. Na
realidade ninguém viu resolvido o que pretendia, por ser necessário à boa
harmonia familiar uma boa comunicação.
Temos uma montanha de problemas como país, sendo o mais grave a enorme dívida que devemos pagar, mais tarde ou mais cedo. A hipótese do “não pagamos”, todos concordam que seria uma muito má ideia. O melhor é pensar a forma de a pagar sem darmos má conta de tudo o resto, que somos nós todos.
Não é fácil pensarmos ordeiramente no problema sem sabermos de que contas falamos: os vencimentos das dívidas estão organizados e resolvidos em cascata, isto é, o esquema viciante de gente pouco séria é pedir a uns para pagar a outros. Neste jogo, onde os Estados são os parceiros, não há inocentes. Todos sabem do esquema, e todos fazem o que lhes mandam fazer. Num país como o nosso sempre se soube que os níveis da dívida tinham passado os limites, sobre qualquer ângulo de análise. Mesmo o pobre, quando a esmola é grande, aceita, mas pensa no que pode seguir-se de menos agradável.
Aqui chegados, os números são como na guerra, quanto devemos? Todos julgamos saber, é o valor de um PIB anual e mais metade de outro ano, qualquer coisa como 189.731 milhões de euros a 30 de setembro de 2012. Devemos pagar quanto e a quem e quando? Poucos sabem ao certo, é o truque do costume, uma espécie de bruxedo só para iniciados. Mas há quem saiba que a coisa se apresenta mais ou menos assim: um terço desta maquia, ou seja mais coisa menos coisa, 65.000 milhões, é à famosa troika. A diferença de 120.000 milhões, é dívida espalhada entre bancos e outras entidades nacionais, que por sua vez a devem a alguém. A fatia mais relevante é, ironicamente, garantida pelo próprio devedor, o Estado.
O gravíssimo problema é que, neste pacote, estão somas muito importantes, fruto do trabalho de milhões de portuguese em vidas de poupança, precavendo o futuro. Quem vai responder, o momento chegado, a pagar o que lhes foi confiado? Ninguém quer pensar nisso, mas se a famosa roda do empresta aí para pagar ali parar? É o mais certo. A solução para muitos devia constar do primeiro parágrafo, mas a vida não é novela, morre aqui e reaparece ali noutra personagem. Tempo é preciso, tempo, é certo que sim, mas para quê? Quem nos vai resolver o problema?
O Chefe de Estado está tolhido como criança que teve má nota na escola. O Governo mais parece uma agência de emprego temporário de secretários de Estado, uns saem por inaptos outros a contas com a justiça. Os partidos da oposição são um sarilho político, pois são mais oposição entre eles do que ao próprio Governo.
E como não há história sem drama, temos em formação, como modernamente se diz, a tempestade perfeita. O partido, dito da alternância, entrou em espiral, roda cada vez mais rápido em torno de si mesmo. Será seguramente um valente tornado que se avizinha, promete que não fica pedra sobre pedra. É o mais provável, o fundador do partido já pouco pode, lamentavelmente, e, como é sabido, se uma geração cria a seguinte mantém, e a dos netos estoira com tudo.
Estamos condenados à caridade de uma europa às aranhas, como ela própria? Julgaram estes maus atores que, de entre mortos e feridos alguém escapa, e é isto que têm para oferecer? Não tenhamos ilusões. O PS nunca mais será um partido com capacidade de governo. Os fatos são estes: António Costa confessou ao país que os membros do “seu governo camarário” são seus sócios e parceiros na forma de resolver a liderança do partido Socialista. Os adjuntos de fortuna nesta bisonha são um verdadeiro arco-íris de atores internos sem estaleca própria; Francisco Assis representa uma ideia de norte, tarimba diversa, câmara municipal e europa; Pedro Silva Pereira, o adjunto do ausente Sócrates, com as provas públicas bem presentes.
O mais jovem, Sérgio Sousa Pinto, para quem não saiba, ocupou o lugar de Seguro junto de Mário Soares, aí cresceu sem ondas ou rasgo, desenvolto com ar de chique e “nouvel vague”.
Não sei o pensa António Costa, como vai o país sair
deste aperto, que promessas pode fazer que possam ser entendíveis e cumpridas.
Que tipo de confiança pode dar a um povo sem horizontes? O que sabe dos
governantes desta nova Europa? A América diz-lhe alguma coisa? Alguma vez falou
com alguém desse lado do mundo ou de qualquer outra latitude? Por exemplo África?
Sem ser os conhecidos dotes de bom advogado e de político caseiro, até agora
com bastante sucesso, sabe mais alguma coisa? Poderia ter feito muito melhor? Um
estadista é um solitário por natureza, teve bons mestres, o último elevou a
farsa a níveis olímpicos. Podia ter esperado um pouco mais e a romaria seria um
verdadeiro tsunami.
Mas não, quis o melhor de todos os mundos, não soube quanto vale a prudência do sábio. Os dados estavam à vista.
Mas não, quis o melhor de todos os mundos, não soube quanto vale a prudência do sábio. Os dados estavam à vista.
E agora? O famoso recuo não se deveu à quimera da
união, mas sim, ao facto de muita gente dentro do partido saber que estavam a
mais no caso da grande união, seriam carne para canhão. Costa entendeu que
podia perder e muito. Sabe que não existe no país socialista. O terreno está
minado. Era aí que Seguro o queria ver atolado. As primas donas não fazem o
peso, e Seguro sabe. Raros foram a votos, quase nenhuns. Foram pisados no
último conclave pela maralha dos “futuros sem-abrigo”.
Politicamente o país observa que o governo, em vez de o ajustar economicamente, está ele mesmo ajustando os seus elementos às funções da governação. O hábito faz o monge, o tempo passa, tudo se ajusta. Se o banqueiro pode aguentar como um sem-abrigo, qualquer um pode. Será? Veremos. Creio que António Costa ficou entalado como o Martim Moniz da sua cidade. Seguro nunca será primeiro-ministro, foi solução a prazo mas casou com o partido.
Lisboa 3 de Fev de 2013
Armando Ramalho