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domingo, 10 de fevereiro de 2013

FUTURO INCERTO



Como nos podemos entender se é tão frequente, mesmo na nossa na casa, pensarmos ter ouvido: (a) quando o proposto era (b) e em resposta saiu um (c) fora de contexto. E por vezes até faz sentido. Na realidade ninguém viu resolvido o que pretendia, por ser necessário à boa harmonia familiar uma boa comunicação.

Temos uma montanha de problemas como país, sendo o mais grave a enorme dívida que devemos pagar, mais tarde ou mais cedo. A hipótese do “não pagamos”, todos concordam que seria uma muito má ideia. O melhor é pensar a forma de a pagar sem darmos má conta de tudo o resto, que somos nós todos.

Não é fácil pensarmos ordeiramente no problema sem sabermos de que contas falamos: os vencimentos das dívidas estão organizados e resolvidos em cascata, isto é, o esquema viciante de gente pouco séria é pedir a uns para pagar a outros. Neste jogo, onde os Estados são os parceiros, não há inocentes. Todos sabem do esquema, e todos fazem o que lhes mandam fazer. Num país como o nosso sempre se soube que os níveis da dívida tinham passado os limites, sobre qualquer ângulo de análise. Mesmo o pobre, quando a esmola é grande, aceita, mas pensa no que pode seguir-se de menos agradável.

Aqui chegados, os números são como na guerra, quanto devemos? Todos julgamos saber, é o valor de um PIB anual e mais metade de outro ano, qualquer coisa como 189.731 milhões de euros a 30 de setembro de 2012. Devemos pagar quanto e a quem e quando? Poucos sabem ao certo, é o truque do costume, uma espécie de bruxedo só para iniciados. Mas há quem saiba que a coisa se apresenta mais ou menos assim: um terço desta maquia, ou seja mais coisa menos coisa, 65.000 milhões, é à famosa troika. A diferença de 120.000 milhões, é dívida espalhada entre bancos e outras entidades nacionais, que por sua vez a devem a alguém. A fatia mais relevante é, ironicamente, garantida pelo próprio devedor, o Estado.

O gravíssimo problema é que, neste pacote, estão somas muito importantes, fruto do trabalho de milhões de portuguese em vidas de poupança, precavendo o futuro. Quem vai responder, o momento chegado, a pagar o que lhes foi confiado? Ninguém quer pensar nisso, mas se a famosa roda do empresta aí para pagar ali parar? É o mais certo. A solução para muitos devia constar do primeiro parágrafo, mas a vida não é novela, morre aqui e reaparece ali noutra personagem. Tempo é preciso, tempo, é certo que sim, mas para quê? Quem nos vai resolver o problema? 

O Chefe de Estado está tolhido como criança que teve má nota na escola. O Governo mais parece uma agência de emprego temporário de secretários de Estado, uns saem por inaptos outros a contas com a justiça. Os partidos da oposição são um sarilho político, pois são mais oposição entre eles do que ao próprio Governo.

E como não há história sem drama, temos em formação, como modernamente se diz, a tempestade perfeita. O partido, dito da alternância, entrou em espiral, roda cada vez mais rápido em torno de si mesmo. Será seguramente um valente tornado que se avizinha, promete que não fica pedra sobre pedra. É o mais provável, o fundador do partido já pouco pode, lamentavelmente, e, como é sabido, se uma geração cria a seguinte mantém, e a dos netos estoira com tudo.

Estamos condenados à caridade de uma europa às aranhas, como ela própria? Julgaram estes maus atores que, de entre mortos e feridos alguém escapa, e é isto que têm para oferecer? Não tenhamos ilusões. O PS nunca mais será um partido com capacidade de governo. Os fatos são estes: António Costa confessou ao país que os membros do “seu governo camarário” são seus sócios e parceiros na forma de resolver a liderança do partido Socialista. Os adjuntos de fortuna nesta bisonha são um verdadeiro arco-íris de atores internos sem estaleca própria; Francisco Assis representa uma ideia de norte, tarimba diversa, câmara municipal e europa; Pedro Silva Pereira, o adjunto do ausente Sócrates, com as provas públicas bem presentes.

O mais jovem, Sérgio Sousa Pinto, para quem não saiba, ocupou o lugar de Seguro junto de Mário Soares, aí cresceu sem ondas ou rasgo, desenvolto com ar de chique e “nouvel vague”.
Não sei o pensa António Costa, como vai o país sair deste aperto, que promessas pode fazer que possam ser entendíveis e cumpridas. Que tipo de confiança pode dar a um povo sem horizontes? O que sabe dos governantes desta nova Europa? A América diz-lhe alguma coisa? Alguma vez falou com alguém desse lado do mundo ou de qualquer outra latitude? Por exemplo África? Sem ser os conhecidos dotes de bom advogado e de político caseiro, até agora com bastante sucesso, sabe mais alguma coisa? Poderia ter feito muito melhor? Um estadista é um solitário por natureza, teve bons mestres, o último elevou a farsa a níveis olímpicos. Podia ter esperado um pouco mais e a romaria seria um verdadeiro tsunami

Mas não, quis o melhor de todos os mundos, não soube quanto vale a prudência do sábio. Os dados estavam à vista.
E agora? O famoso recuo não se deveu à quimera da união, mas sim, ao facto de muita gente dentro do partido saber que estavam a mais no caso da grande união, seriam carne para canhão. Costa entendeu que podia perder e muito. Sabe que não existe no país socialista. O terreno está minado. Era aí que Seguro o queria ver atolado. As primas donas não fazem o peso, e Seguro sabe. Raros foram a votos, quase nenhuns. Foram pisados no último conclave pela maralha dos “futuros sem-abrigo”.

Politicamente o país observa que o governo, em vez de o ajustar economicamente, está ele mesmo ajustando os seus elementos às funções da governação. O hábito faz o monge, o tempo passa, tudo se ajusta. Se o banqueiro pode aguentar como um sem-abrigo, qualquer um pode. Será? Veremos. Creio que António Costa ficou entalado como o Martim Moniz da sua cidade. Seguro nunca será primeiro-ministro, foi solução a prazo mas casou com o partido.

Lisboa 3 de Fev de 2013

Armando Ramalho
  

domingo, 3 de fevereiro de 2013

PÚBLICO


Negócio fechado Senhor Presidente.



REFORMA DO ESTADO (CAPITULO I)


Coisas simples como ponto de partida, uma divagação sobre o papel do Estado no bem-estar da comunidade. Vamos admitir um sistema nuclear, considerem que todo o mundo não é mais que um pequeno atol no meio do vasto oceano.
Os humanos tinham vários problemas, que abordaremos também para explicar os modelos de análise de sistemas muito mais complexos, como este inicial no que diz respeito às trocas e sua representação na paz social. Prosperidade das trocas e bem-estar geral.
Assim, o nosso atol não tinha mais do que coqueiros, palmeiras, areia e mar e, como é evidente, as pessoas que se constituíram em famílias, as ditas nucleares pais e filhos, e as mais alargadas a que se deram o nome de tribos.
As atividades estavam resumidas após construção dos abrigos por mor dos elementos, sol e chuva, pois outros predadores não existiam, nem bens para apropriação indevida. A pesca é obviamente a fonte da alimentação de todos, mas nem todos tinham arte e engenho para apanhar peixe, o que deu origem aos primeiros conflitos. Os carenciados não podiam morrer de fome. Solução do problema: por consenso (foi aqui que nasceu o termo) os inaptos para a pesca iriam apanhar todos os cocos caídos das árvores e ficariam responsáveis pela sua guarda. Primeira forma organizada da agricultura em cooperativa universal.
A paz foi breve. Com a falta de cocos livres os jovens resolveram subir às árvores para o seu próprio abastecimento sem restrições. O mais velho faz uma observação à consideração geral: se são apanhados os cocos nas árvores deixa de haver cocos maduros na praia. Havia um problema que devia ser resolvido (nasce o jurista) e a solução ficou regulada pelo primeiro decreto “atoliano” para ser cumprido por todos sem exceção (salvo nova lei em contrário), foi a primeira previsão de uma lei de exceção.
Ficou regulado: Proibido obter cocos de forma ilícita. A coisa começa a complicar-se: tinham os cocos controlados por uns e o peixe por outros, uma terceira frente de conflito estava crescendo entre os que não tinham o poder de consumir à larga nem uma coisa nem outra. Então, posto o problema, o jurista convoca o pescador que mais pesca e juntamente com o que guardava os cocos, por ser o mais bruto de todos os outros, combinam proteger os seus direitos adquiridos.
O primeiro governo estava formado: o jurista, o dos cocos e o do peixe ouviram em audiência as pretensões dos que não tinham mando em nada. Argumentos expostos: que não podiam ter mais um coco que o vizinho e que também um só carapau como todos os outros não chegava.
Pergunta o jurista: com que direito reclamavam mais do que o que todos tinham? Reafirmaram que se baseavam no facto evidente de que os que pescavam sempre levavam mais peixe do que os outros e os dos cocos o mesmo, e que eles também queriam parte da abundância de uns e outros, que a equidade deve ser respeitada.
A resposta do jurista foi, como sempre, manhosa, que o mar era grande e livre e que quanto a cocos estávamos conversados pois os recursos são escassos, e prometeu que as regras no futuro seria rigorosamente fiscalizadas (nasceu aqui o fisco, de fiscal).
Tréplica estruturada do terceiro sector: temos uma proposta, poderíamos fazer vinho de coco para alegrar a vida da comunidade se justamente também compensados com mais vinho, e por esse meio, com a ilha feliz acabariam as rebeliões. Quais rebeliões pergunta o jurista? As que estão para acontecer se não houver solução.
Negócio fechado diz o presidente jurista. O pescador respira de alívio por afastar a concorrência, passam a estar autorizados a fazer vinho de coco mas com uma condição, quem diz quanto vinho se fabrica e como se distribui somos nós, o governo legítimo (primeira regra de condicionamento económico). Combinado?  Negócio fechado Senhor Presidente.


Lisboa 19 de janeiro de 2013

Armando Ramalho
 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Política é isto mesmo?



Política é isto mesmo? O que nos é dado observar neste últimos dias? Um leve murmúrio de se querer saber quando são as eleições internas do partido, e parece que a casa vem abaixo.
Penso saber, e se não é verdade que me digam: temos um primeiro movimento que faz parte do passado recente. Não vi vivalma atacar o Sócrates enquanto este tinha o poder no partido, embora já corrido das funções da governação. Caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Sócrates fez como quis: um grupo parlamentar com os seus. Ninguém levantou a mais leve contestação a um gravíssimo entorse na vida interna de um partido dito democrático. Foi um fartar vilanagem. Tozé não foi banido por pouco, Mário Soares pode explicar. Costa teve o mesmo comportamento de sempre, “não me comprometam”.
Num segundo tempo Tozé tem o caminho livre para SG, Costa não está para aí virado, é muito novo e tem cargo que lhe baste. É em desespero que é lançado o Assis, os socráticos acordaram tarde quando tomaram consciência que o “paizinho” tinha dado o salto para bem longe. Costa sabe que é necessário um jogo de cintura, não pode ficar com a imagem de Pilatos, joga fraco pelos desvalidos e não hostiliza a nova vaga.
Porque ganha facilmente o Tozé? As Federações com as respetivas Concelhias, meia dúzia de gatos, viram o fim do filme com nítida clareza. Tozé é da mesma massa com que são feitos os carreiristas, em geral mulas caladas que esperam a sua oportunidade, sem ondas, e como não tem peso no Parlamento vai precisar de nós, cogitam, coligam-se, ganham com folga. Somos os caciques da raia miúda, os carreiristas, os golpistas de pequeno gabarito, mas tomam consciência do seu peso em matilha. Os arrivistas da turma do Sócrates metem-lhes medo. Querem as modernices dos franceses, querem que o povo vote nas eleições do PS. Mais vale a morte que tal sorte. E foi assim.
O desempenho imediato do novíssimo e legítimo SG é todo no sentido de consolidar o seu poder, e se assim pensa melhor pratica. É um desatino por esse país fora. Designa e confirma os candidatos a presidente de câmara, garante lugares a torto e a eito. Os socráticos do parlamento ficam calmos, não contestam ninguém, jogam o jogo pelo jogo, há muito tempo pela frente, o pragmático líder da bancada não faz sombra a ninguém, a presidente do partido também não levanta ondas, Almeida Santos faz de tabelião, sabem que o momento chegado vão todos cair para o lado que ganhar a cartada do “tudo ou nada”.
Estamos quase lá. O trabalho das nomeações para as câmaras está feito, foi de mestre o Tozé não ter embarcado em colocar os triplos-presidentes como candidatos, honra lhe seja feita.
A bancada dos socráticos tarde descobre que o trabalho da aranha era uma armadilha. Como o Sócrates sempre considerou as bases do partido assunto de segunda grandeza, ficaram-se pelos jogos palacianos, não souberam cuidar dos votos e dos caciques espalhados pelo país. Alguns tinham no Costa o seu provedor, que lá foi ajeitando as vidinhas das pedras mais relevantes mas sem levantar a crista. São os do tipo camaleão, estão sempre com um pé em cada lado, no César e no candidato sempre provável mais tarde do que cedo.
Para a troca vão destrunfando com as cartas baratas, o Congresso dos Açores não vai ser ringue para ninguém, o acontecimento tem cartas viciadas, é o adeus às armas do veterano que se digna democraticamente a aceitar um trono feito à sua medida, de onde pode passear o penacho, o de presidente vitalício do PS das ilhas do meio do Atlântico.
O futuro desta gente como será? A corrida ao pote tipo PS foi uma falsa partida. Todos os assuntos quentes da governação não têm proposta clara, não sabem.
Que a oposição não serve para dar proposta mas sim, democraticamente, controlar a ação do governo, é a versão madura do dogma à Costa. Saber jogar poker e ter nervos de aço para jogar o “tudo ou nada” é de rigor para os socráticos do parlamento, mas, o único capaz desse feito esta longe e faltam-lhe os vivaços que agiam na sombra das negociatas. Estes estão, na sua grande maioria, a contas com a justiça. O mundo das negociatas está com dono, é um Relvas que se consolida à medida que o tempo passa. As sondagens viraram o inimigo público de todos no PS.
A barraca pode ir a baixo e é isso que os move, uns porque podem ficar com o poder virtual e outros por perderem tudo. Os pequenos privilégios da herança do Sócrates podem ir pelo cano no caso de nada representarem para o mata-mata com os do poder real, ao bom estilo do ganhador Filipão. Veremos.
Armando Ramalho
Lisboa 25 de janeiro de 2013