É muito conhecida a história de
que barcos, casa de férias e amantes, dão duas enormes alegrias, uma quando são
novas, outra, ainda maior, quando nos livramos delas.
Com Sócrates é um pouco desta
disfunção humana que se observa: tivemos uma deslocada petição a pedir que o ex-primeiro
não falasse na TV pública, razões anotadas, as mais reacionárias possíveis, uma
envergonhada contra, que sim, a que ninguém deu relevo.
O homem veio confiante nos seus fiéis
seguidores, que nas últimas eleições o confirmaram como possível primeiro-ministro,
o mesmo milhão e meio que agora o quis ver, ao vivo e em direto.
Se o mesmo número não chegou para
ganhar nas últimas eleições a que se candidatou, dado que um milhão mais fez a
diferença, em TV é um valor absoluto, ainda a milhas do primeiro passo do homem
na Lua em 1969, mas também muito superior às audiências dos maiorais em
funções.
Sócrates não foi o cordeiro nesta
Páscoa. Foi leão e raposa como mandam os manuais, soube bem a muita gente,
mesmo àqueles que estavam fartos da sua pesporrência. Estou convicto de que os portugueses
se sentiram levemente vingados, pois também gostariam de dizer duas coisinhas
ao senhor Presidente da República.
Agarrou-se aos seus factos, e a
realidade psicologicamente bem arrumada mais parecia a velhinha muralha de aço,
não havia volta a dar, o par que tinha pela frente não tinha o peso necessário
neste duelo.
Só vi uma tourada à espanhola na
vida, foi em Sevilha com o Pedrito de Portugal, faz anos, mas tenho na memória
o terrível silencio quando o toureiro e o touro estão prontos para os momentos
finais. O respeito da morte, não encontrei outro adjetivo. Foi de arrepiar
ouvir o rodar de pés do matador na areia dura de uma praça com dezenas de
milhares de almas suspensas de um final sempre incerto.
Tive um misto destes sentidos
quando o Sócrates se atirou ao presidente. Não houve a famosa estocada de morte
como teria sido bonito de ver. Prevejo com facilidade os movimentos políticos,
são quase todos muito previsíveis é bem certo, mas para ser franco, confesso
que creio ter visto o começo de uma “guerra” muito violenta no sistema político.
É bom que se clarifique de vez os
caminhos de um povo que está a passos de “estar por tudo”. Mais vale a morte de
que tal sorte. É o momento da verdade que chega.
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